Alerta está na Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas, documento desenvolvido pela Chatham House para ser utilizado na COP26.
Segundo o mais recente relatório da Chatham House, instituição britânica think tank (definição para empresas e organizações que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos), a capacidade de adaptação dos países às mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global pode acabar caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam drasticamente reduzidas nesta década. Sem a redução de emissões, a produção agrícola pode cair 30% até 2050.
O documento foi elaborado para servir como apoio às decisões tomadas por governantes globais antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), que será realizada em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro.
Para Daniel Quiggin, pesquisador do Programa de Meio Ambiente e Sociedade da Chatham House e um dos autores do relatório, as metas estabelecidas por muitos países para neutralizar as emissões de carbono são uma esperança, embora ainda sejam só promessas.
“Muitos países não têm políticas, regulamentações, legislação, incentivos e mecanismos de mercado proporcionais para realmente cumprir essas metas. Além disso, os NDCs [sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada] revisados globalmente ainda não fornecem uma boa chance de evitar o aquecimento em 2ºC. Devemos lembrar que muitos cientistas do clima estão preocupados que, além dos 2ºC, uma mudança climática descontrolada possa ser iniciada”, alerta.
As metas nacionais de redução da emissão de gases de efeito estufa para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século foram definidas a partir do Acordo de Paris, um tratado criado na COP21, em 2015. Porém, Quiggin alerta que essas metas ainda não garantem a neutralidade do carbono.
Ondas de calor
A avaliação aponta que a falta de medidas concretas por parte dos governos pode levar a temperaturas extremas a partir da década de 2030, causando 10 milhões de mortes ao ar livre. Ondas de calor anuais podem afetar 70% da população mundial e 700 milhões de pessoas estarão expostas a secas severas e prolongadas todos os anos.
O documento também alerta para a redução de 30% na produção agrícola até 2050 e que 400 milhões de pessoas não poderão mais trabalhar ao ar livre por causa do aquecimento global. Para 2040, há uma expectativa de perda de rendimento de pelo menos 10% nos quatro principais países produtores de milho: Estados Unidos, China, Brasil e Argentina.
Na virada do próximo século, um aumento de 1 metro no nível do mar pode aumentar a probabilidade das grandes inundações em cerca de 40 vezes para Xangai, 200 vezes para Nova York e mil vezes para Calcutá.
Segundo Quinggin, os atuais esforços globais para conter o aquecimento dão ao mundo menos de 5% de chance de manter o aquecimento abaixo de 2°C. A avaliação da Chatham House indica que o ritmo atual dos esforços de descarbonização podem segurar o aquecimento até 2100 em 2,7°C, mas a chance de a temperatura média do planeta subir 3,5°C é de 10%. O pesquisador explica que as restrições de mobilidade ocorridas por causa da pandemia da covid-19 contribuíram apenas momentaneamente para a redução das emissões.
Fonte: Agência Brasil