Entenda melhor a capacidade dos oceanos de absorver gás carbônico da atmosfera e descubra porque o “tipping point” está próximo
O “Tipping point” dos oceanos é uma expressão que pode ser traduzida como “ponto de inflexão” ou “ponto de não retorno” em português.
A noção refere-se à habilidade dos oceanos de absorver o CO₂, também conhecido como gás carbônico, presente na atmosfera.
Esse processo é crucial para regular o aquecimento global e suas consequências, já que 30% das emissões de CO₂ de origem humana são absorvidas pelos oceanos.
No entanto, uma pesquisa feita pelo Instituto de Geofísica da Universidade do Texas e o Departamento de Ciências Atmosféricas e Oceânicas da Universidade do Colorado, publicada na revista Geophysical Research Letters, previu que em 2100, no pior dos cenários de mudanças climáticas, os oceanos atingirão o seu ponto sem retorno.
Por que o “tipping point” acontece?
Segundo os cientistas do estudo, a diminuição da habilidade de absorver dióxido de carbono é consequência da criação de uma camada superficial de água com baixa alcalinidade.
A alcalinidade é uma propriedade química que impacta a quantidade de CO₂ que pode ser dissolvida na água salgada.
Desse modo, com a redução da capacidade dos oceanos de absorver CO₂, ocorrerá um acréscimo no aquecimento global.
Conforme as descobertas, isso tem início com as mudanças climáticas extremas, que sobrecarregam as chuvas e diminuem as correntes oceânicas.
O que faz com que a camada superior dos oceanos seja coberta por água doce quente, que não se mistura facilmente com as águas mais frias e alcalinas abaixo dela.
Conforme essa camada superior se satura de CO₂, sua alcalinidade diminui e, com ela, sua capacidade de absorver CO₂.
O resultado é uma camada superficial que funciona como uma barreira para a absorção de CO₂.
Isso significa que menos gases do efeito estufa são absorvidos pelo oceano, resultando em mais gases deixados na atmosfera.
Assim, ocorre um aquecimento mais rápido, que mantém e fortalece a camada superficial de baixa alcalinidade.
Essa descoberta é um alerta para o mundo diminuir suas emissões de CO₂ para impedir a ultrapassagem deste e de outros pontos críticos, como o ponto sem retorno da Amazônia, também conhecido como savanização da Amazônia.
Consequências
Além das alterações climáticas, é fundamental ressaltar que a acidificação dos mares pode ser extremamente perigosa e ameaçar a vida marinha até o final deste século.
Um estudo publicado na revista Communications Biology concluiu que a acidificação do oceano desestabiliza o equilíbrio ecológico das algas e prejudica os recifes de coral, levando a consequências irreversíveis.
Além dos corais, outras espécies também podem ser afetadas, como certos tipos de moluscos, mariscos, plâncton e algas, dificultando a sua capacidade de formar conchas e levando à sua extinção.
Em circunstâncias normais de absorção de dióxido de carbono pelos oceanos, as reações químicas favorecem a produção de carbonato de cálcio (CaCO₃), utilizado por diversos organismos marinhos na formação de seus esqueletos.
A diminuição da taxa de produção de carbonato de cálcio afeta o estágio inicial da vida desses organismos, bem como a sua fisiologia, reprodução, distribuição geográfica, morfologia, crescimento, desenvolvimento e tempo de vida.
Além disso, reduz a tolerância às mudanças na temperatura da água do mar, tornando os organismos marinhos mais suscetíveis a alterações e interferindo na distribuição de espécies já vulneráveis.
Regiões vulcânicas hidrotermais, que naturalmente apresentam altas concentrações de CO₂, são exemplos dos ecossistemas marinhos futuros, com baixa biodiversidade e alto número de espécies invasoras.
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