Tão importante quanto a água e o ar, a preservação da biodiversidade do solo é fundamental para a manutenção da vida na Terra.
O dia 05 de dezembro foi instituído em 2013 pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como sendo o Dia Mundial do Solo.
Atualmente a data é marcada pela divulgação de informações para a conscientização da importância da preservação do solo como um recurso natural precioso e não renovável.
Além de possibilitar a produção da maior parte dos alimentos que consumimos — e também do alimento para o gado e outros animais que ainda são usados para alimentar os humanos —, o solo tem função vital no equilíbrio dos ecossistemas. Entenda:
Por que o solo é tão importante quanto a água e o ar?
De acordo com dados da ONU, os solos são um dos principais reservatórios globais de biodiversidade. Eles hospedam mais de 25% da diversidade biológica mundial, e mais de 40% dos organismos vivos em ecossistemas terrestres estão associados aos solos durante seu ciclo de vida.
Além disso, ele fornece nutrientes essenciais para as nossas florestas e lavouras, filtra a água e ainda ajuda a regular a temperatura e as emissões dos gases de efeito estufa.
Em comunicado, a vice-diretora-geral da FAO, Maria Helena Semedo, reforçou que “a biodiversidade do solo e o manejo sustentável são pré-requisitos para o cumprimento de muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.
Segurança alimentar
Em relatório a ONU aponta que a degradação do solo afeta pelo menos 3,2 bilhões de pessoas, 40% da população mundial. Para deixar clara a relação da preservação dos solos com a nossa sobrevivência, basta pensarmos que é dele que provêm 95% dos alimentos que consumimos.
Segundo José Perdomo, presidente da CropLife Latin America, em entrevista no site oficial da companhia, precisaremos aumentar a produção agrícola em pelo menos 50% até 2050, quando chegarmos a 9.100 bilhões de pessoas. Como poderemos alcançar esse número se não protegermos os solos?
Porém, a realidade está caminhando na contramão dessa necessidade. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que, em média, o rendimento anual da colheita seja reduzido em 0,3% devido à erosão.
Se isso for mantido, poderá haver uma redução de 10% no rendimento potencial anual até 2050 e isso tornaria os alimentos mais caros.
A erosão tem diversas causas, que podem ser naturais, como chuvas excessivas, secas e ventos intensos, e também as causas geradas por más práticas agrícolas, como aração ou lavoura excessivas, plantio em encostas e sem linhas de contorno, deixar o solo exposto sem cobertura vegetal.
A queima como uma prática cultural ancestral antes do plantio também é um dos grandes causadores da degradação do solo, bem como o uso excessivo de insumos e a falta de rotação de culturas.
E uma vez que o solo é perdido por erosão, desertificação ou salinização, não é possível recuperar mais, pois o processo de regeneração do solo é muito lento.
Aliás, outro fator de risco para a produção agrícola mundial é o teor de sal contido nos solos. Durante o Simpósio Global sobre Solos Afetados pelo Sal, evento virtual organizado pela FAO, foi divulgado um novo estudo que aponta que mais de 1 milhão de hectares de solos no mundo todo contêm muito sal, tornando impossível qualquer tipo de plantio e colocando 1,5 bilhão de pessoas dessas regiões em situação de insegurança alimentar.
Tecnologia a favor do pequeno produtor
Um estudo da FAO em parceria com pesquisadores da Embrapa concluiu que 30% dos solos do mundo já estão em estado de degradação.
De acordo com outro relatório também da ONU sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, 811 milhões de pessoas passaram fome em 2020, e estima-se que 118 milhões de pessoas no mundo sofram de fome crônica.
Conscientes deste triste cenário, alguns empreendedores estão colocando a tecnologia a serviço da agricultura para conter o avanço da degradação e garantir — e por que não aumentar? — a capacidade de produção alimentícia no mundo.
É o caso da Dimitra, uma agtech global que oferece soluções tecnológicas destinadas aos pequenos produtores. A Dimitra possui um contrato para atuar em 1,3 milhão de fazendas indianas.
Sua plataforma é configurada para usar satélites na avaliação do desempenho das culturas, complementar esses dados com observações do produtor rural e sensores de solo e, em seguida, alimentar essas informações em um algoritmo de aprendizado de máquina para ajudar esses produtores a tomar melhores decisões sobre como preparar, semear, cuidar e colher safras e levá-las ao mercado.
O objetivo de Dimitra é usar dados e ferramentas de aprendizado de máquina para aumentar em 20% a produção não apenas desses pequenos fazendeiros da Índia, mas de todo o mundo. Segundo Jon Trask, fundador da agtech, os pequenos agricultores representam a produção de quase 70% dos alimentos no mundo.
“Aumentar a produção e a receita em 20%, se distribuirmos corretamente e não desperdiçarmos, teoricamente poderia resolver a crise da fome mundial”, afirma ele.
Por meio de empresas como essa, tecnologias baseadas em inteligência artificial não estão apenas na fase dos sonhos para a criação de soluções contra a insegurança alimentar global, mas já estão no local e em ação.
Fontes: ONU News, Embrapa, Forbes, CropLife Latin America