Conheça os impressionantes números do setor, entenda o recente caso do cemitério têxtil no deserto do Atacama, no Chile, e veja dicas sobre como descartar roupas usadas.
Você sabia que a moda pode ser tão tóxica como pneus ou plásticos? A produção supera o consumo — que já não é pouco —, e essa equação desequilibrada entre oferta e demanda gera toneladas de roupas descartadas sem nunca terem sido usadas. Vem entender.
O volume desenfreado de produção
Segundo o Apparel Industry Overproduction Report, conteúdo desenvolvido pela empresa americana ShareCloth, são produzidas 150 bilhões de peças por ano na indústria da moda global. No entanto, 30% dessas peças nunca são vendidas e um terço só sai das lojas com desconto.
A H&M, por exemplo, em 2018 relatou ter um montante de roupas não vendidas no valor de US $4,3 bilhões em estoque. A gigante da moda produz tantas roupas que uma usina de energia na cidade sueca de Vasteras é parcialmente abastecida pela queima dos produtos defeituosos da H&M para gerar energia.
No passado, a marca de luxo Burberry se envolveu em um escândalo na mídia ao admitir queimar produtos no valor de US $37 milhões em vez de vendê-los a um custo menor.
As marcas que não incineram seus estoques encalhados geram toneladas de roupas descartadas em aterros sanitários, ou pior, em aterros clandestinos, os chamados cemitérios têxteis, como no recente caso do deserto do Atacama. Conheça o caso:
Cemitérios têxteis da moda descartável
O Chile é o maior consumidor de roupas da América Latina e também o principal importador de peças de segunda mão da Ásia, Europa, Estados Unidos e Canadá. Por isso, todos os anos, chega ao Chile cerca de 59 mil toneladas de roupas de todo o mundo, usadas e também novas não vendidas.
Das quase 60 mil toneladas que entram pela zona franca do porto de Iquique, a 1.800 quilômetros de Santiago, uma parte é revendida para outros países da América Latina, além dos comerciantes locais que selecionam roupas para suas lojas.
O que não é vendido, precisa ser descartado, e como as roupas não são biodegradáveis, não são aceitas em aterros municipais. Assim, pelo menos 39 mil toneladas de roupas foram descartadas no Atacama, no Chile, gerando montanhas coloridas no deserto.
O impacto ambiental da moda em números
A moda é conhecida por ser uma das indústrias mais poluentes do mundo, com uso intensivo de energia, alto consumo de água e uso de recursos não renováveis.
Estima-se que a produção têxtil emite 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa anualmente. Isso é mais do que todos os voos internacionais e transporte marítimo juntos.
Além da poluição do ar, ela gera cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos sólidos, o equivalente a 12,3 kg por habitante do mundo.
E quanto ao consumo de água, são necessários 7.000 litros de água para produzir um só jeans. Uma base para comparação é o consumo que nós, humanos, precisamos para nos manter vivos: uma pessoa comum bebe essa quantidade em cerca de seis anos.
Agora pense nessa conta com a indústria produzindo 2 bilhões de calças jeans todos os anos.
Como realizar o descarte de roupas usadas corretamente
Menos de três anos é a média de vida útil de um item de vestuário em países desenvolvidos, mas mais de 50% das peças de fast fashion produzidas são descartadas em menos de um ano. Por esses e por todos os números acima, falar sobre descarte correto é urgente.
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, PNRS, a responsabilidade do descarte correto é compartilhada entre os consumidores, as empresas do segmento e o poder público e hoje já existem vários movimentos de todos os lados dessa engrenagem.
Além de evitar ao máximo o consumo nas fast fashion e priorizar as marcas que têm processos menos agressivos e produtos de maior durabilidade na hora da compra, é preciso entender qual o melhor destino para as peças no fim do ciclo de uso:
Doação
Você pode doar suas roupas para instituições como ONGs que ressignificam esses produtos em bolsas, tapetes ou cobertores para a população em estado de pobreza.
Ressignificação
Aliás, você mesmo pode reformar e transformar a peça em uma nova, através do conceito de upcycling.
Venda e troca
Você pode também trocar peças entre amigos e amigas ou também utilizar aplicativos criados para isso. Brechós também são ótimos lugares para levar as peças em bom estado, mas que não combinam mais com o seu estilo e ainda garimpar novas.
Reciclagem
Algumas marcas, como a C&A e a Puket, têm uma política de logística reversa e aceitam peças para reciclagem. Neste processo, o tecido é transformado em fios, que poderão ser usados como matéria-prima para a fabricação de novos produtos.
O consumo consciente e sustentável é uma ação estrutural e precisa ser coletiva. Então, em nenhuma hipótese jogue roupa no lixo!
Fontes: Share Cloth, Portal Exame, Yahoo Notícias, Menos 1 Lixo