Nesse Dia das Crianças a Atlantikos traz orientações de uma nutricionista especializada e ajuda a desmistificar o tema.
O vegetarianismo estrito ainda é visto por muitos como uma decisão radical. Quando o assunto é cortar carne e alimentos de origem animal da dieta das crianças, a polêmica é ainda maior, e muitas dúvidas pairam sobre o assunto.
É saudável para o bebê? Não prejudica o crescimento e o desenvolvimento da criança? É possível?
A resposta é: sim, é possível! E existem muitos benefícios já reconhecidos pelo meio científico. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, “estudos recentes demonstram que uma dieta bem balanceada consegue promover o crescimento e desenvolvimento adequado de crianças e adolescentes, mesmo com a ausência de carne e derivados animais”.
Segundo Caroline Beskow, nutricionista e pós-graduanda em Nutrição Pediátrica pelo IPGS, as crianças vegetarianas e veganas têm menor risco de doenças cardio-metabólicas, criam hábitos alimentares saudáveis mais rápido, têm crescimento e desenvolvimento normal e, inclusive, menor chance de desenvolver alguns tipos de câncer.
Contudo, as famílias que seguem uma dieta vegetariana estrita devem ter consciência de que o leite materno deve ser o único alimento oferecido ao bebê nos primeiros seis meses de vida, e deve ser oferecido complementarmente até os dois primeiros anos.
Essa é a orientação do Ministério da Saúde e do Novo Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, elaborado com a contribuição científica da Sociedade Vegetariana Brasileira.
Nos primeiros seis meses, não é preciso oferecer nenhum outro alimento (chás, sucos, água, água de coco, papinhas, etc.) Nem mesmo nas estações mais quentes se faz necessária a ingestão de água, pois o leite materno possui água o suficiente para a completa hidratação do bebê.
O leite da mãe vegana é mais fraco?
Não existe diferença significativa na composição do leite produzido por mães veganas em comparação ao das mães que consomem carnes e derivados de origem animal.
Os principais nutrientes, com influência na alimentação materna, seja a mãe vegana ou não, são as vitaminas A, D, E, K, C, e o do complexo B. É fundamental que a mãe garanta o aporte desses nutrientes para suprir as demandas nutricionais com a alimentação ou a suplementação, quando necessário.
A quantidade de vitamina D e B12 presente no leite materno depende dos estoques da mãe. Sendo assim, se a mãe não estiver garantindo as fontes de Vitamina B12 e D, ela deve suplementar para garantir uma boa concentração no leite.
A alimentação da mãe não interfere nos níveis de cálcio, ferro, zinco e cobre presentes no leite. Somente o ferro poderá ser necessário suplementar a partir do 3º mês de vida devido à alta prevalência de anemia ferropriva em toda a população brasileira, não somente na parcela vegetariana da população.
Falta proteína para crianças veganas?
Segundo Caroline, não. As proteínas são formadas por combinações dos 20 aminoácidos e possuem funções estruturais como a construção e a reparação de tecidos, regulação, defesa e produção de enzimas e transporte de compostos fisiológicos.
Os alimentos de origem vegetal possuem todos os aminoácidos essenciais, sem exceção. É super fácil atingir a necessidade diária de proteína e todos os aminoácidos essenciais.
As principais fontes de proteína vegetal são: feijões, soja, tofu, lentilha, amendoim, grão-de-bico, aveia, ervilha, edamame, proteína texturizada de soja. Caroline afirma ainda que não há nada no ovo que faça falta ou cause alguma deficiência. “Consumir ovo é uma opção, e não uma necessidade”, ressalta.
Crianças vegetarianas ou veganas consomem muito carboidrato?
O vegetarianismo ou veganismo, por si só, não contribui para o desbalanceamento de macronutrientes (carboidrato, proteína e gordura). A literatura científica mostra que a ingestão alimentar de crianças vegetarianas e veganas não ultrapassa as recomendações do consumo de carboidratos.
Retirar ou reduzir drasticamente o consumo de carboidratos pode causar prejuízos à saúde, e essa prática não é recomendada para crianças. Os carboidratos são geradores de energia (calorias) para o corpo humano,e uma média entre 45% e 60% das calorias devem vir dessa fonte.
Em resumo, a alimentação vegetariana é apropriada durante todas as fases da vida, incluindo a gravidez, lactação, infância, adolescência, também para idosos e atletas.
A Sociedade Vegetariana Brasileira elaborou um Guia Alimentar para Bebês Crianças Vegetarianas até 2 Anos de Idade que aborda amplamente a importância da amamentação, como proceder na impossibilidade de amamentar, questões sobre a introdução alimentar, planejamento nutricional e muitas outras informações importantíssimas para que as escolhas no dia a dia sejam conscientes e seguras.
A SVB disponibiliza também o Guia Alimentar para Crianças e Adolescentes, com explicações didáticas sobre as funções e as fontes vegetais de cada nutriente que o corpo precisa, reunindo dicas para lancheira, sugestões de cardápio e até diversas receitas para toda a família.
Mas é importante ressaltar que o acompanhamento profissional é importantíssimo para analisar e indicar as quantidades e combinações ideais especificamente para sua criança.
Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Vegetariana Brasileira, @nutrinhavegana, Canguru News